E G O T R I P
O mundo a seus pés

A primeira impressão é a que fica? Talvez. Pior ainda é quando um parecer de avaliação utiliza diferentes pesos e medidas. Em terra firme, não há como medir distância e velocidade calculando nós e milhas náuticas.

O que eu sou, aos quase 37 anos? Considerando a tabela de valores que alguns utilizam, é bem provável que eu seja muito pouco. Como jornalista, para ter valor, decerto hoje eu deveria estar apresentando o Jornal Nacional. Como escritor, para ser levado a sério, talvez eu já devesse ter vencido o Nobel de Literatura.

O período que passei em rádio e jornal, os prêmios que conquistei desde os tempos da faculdade, não devem ter importância nenhuma. Como assessor de imprensa, ter atendido um governador, três deputados, um secretário de estado e uma vereadora na Câmara Municipal, além de nunca ter ficado desempregado desde que me formei, também não importa.
Será que nada disso importa, para alguns, porque apesar de tudo eu não tenho um patrimônio para ostentar meu sucesso e mostrar a todos que venci na selva capitalista? Não tenho dúvidas que sim, para essas pessoas, nada disso importa se não houver retorno financeiro imediato.
Hoje em dia ninguém sonha
em ser Nelson Rodrigues ou Jorge Amado?
Meu objetivo é escrever ficção, meu ganha-pão é o mal remunerado trabalho como jornalista. Na carreira de escritor, que é um trabalho para toda vida, considerando minhas tabelas de valores, e elas são as mesmas utilizadas pelas pessoas que sabem a dificuldade de ser um autor de ficção no Brasil, estou muito distante dos rótulos de acomodado e sem ambição.
Se eu fosse um merda, meu nome jamais teria saído nos jornais quando lancei meu livro, nem seria convidado para entrevistas em rádio e tevê. E também não estaria preparando um novo livro, que apenas no planejamento da estrutura, forma e conteúdo, levou quase dois anos. Escrever ficção não é fácil, precisa ter o dom da palavra. É um processo sofrido, dolorido e solitário. Existem leitores contumazes, verdadeiros ratos de livraria que, com certeza, já leram muito mais do que eu e têm inúmeras histórias para contar, mas não saberiam como fazê-lo. E assim é com 99,9% das pessoas.
Para alguns, aparentemente, não há mérito em ser lembrado ao longo do tempo, não é importante deixar vivo o pensamento e as idéias através da palavra, “falando” para gerações de leitores e entrando na mente de pessoas que a gente nunca viu. Ser lembrado como artista não é importante. E as pessoas que não têm paciência e esperam resultados imediatos, talvez nunca alcancem o que isso significa. Questão de valores e visões de mundo.
Fazer o quê? Nada, além de aceitar e respeitar as opiniões contrárias. Cada um com seus valores. Para mim, fazer uma carreira como escritor é bastante ambicioso. Espero que o talento seja compatível à pretensão.
O que está reproduzido abaixo foi retirado do antigo blog. É uma análise de um conto de minha autoria, feita pelo escritor que aqui será chamado Senhor X, que é doutor em literatura e deve entender alguma coisa do assunto. Eu sempre releio o que X escreveu, e isso não me deixa esquecer quem sou e a que vim.

Análise e interpretação de quem estudou o assunto
A partir da internet, de onde surgi, inúmeros contatos foram realizados e alguns acabaram se transformando em projeto. Ganharam vida fora do mundo virtual. Minha ida à FLIP, o lançamento de “Contos para ler cagando”, a breve participação na última Feira do Livro de Porto Alegre, o surgimento da editora Casa Verde, o lançamento de FATAIS, algumas entrevistas e vários contatos com outros autores e muitos acadêmicos, sobretudo estudantes de jornalismo e letras.
O mais recente destes contatos realizados pela internet foi transcrito abaixo, de forma resumida. O autor do e-mail é o Senhor X *.
“Conheci teu site e teus textos, através de um e-mail que o Marcelo Spalding me enviou divulgando o projeto Fatais. Na verdade, já tinha lido teus minicontos naquela exposição que a AGEs organizou na Casa de Cultura Mario Quintana,da qual fiz parte também. Bom, o negócio é que gostei muito do teu jeito de escrever. Direto, porrada, retratos cruéis e vivos da uma realidade poucas vezes abordada, acho, na literatura produzida por aqui.
O Faraco talvez faça alguma coisa na direção deste mundo que tu resolveu, escolheu, sei lá, ficcionalizar, e que faz com maestria. Teu conto "Joel" é de uma dor contida extrema. A virada no último parágrafo que desatina o leitor, fazendo-o perceber a história sobre um prisma totalmente diferenciado do que o narrador vinha construindo. Bah, Caco, é dor plena, desacorçoa, sacode a gente. Função maior, creio, da Literatura. Da boa Literatura. Aquela com L maiúsculo e que tu tá fazendo bem demais, cara. Contos como Tejada, Beijinho do tio, entre outros, são exemplos do que falo.
É isso. Sou escritor também, mas sobretudo leitor e quando me deparo com textos fortes e emocionados, embora aparente uma crueza e uma sordidez sem tamanho, não consigo ficar calado, tenho que fazer ouvir o eco do que me provocaram.”

RESPONDI ASSIM:
“Quero te dizer Muito Obrigado, humilde e sincero. Tuas palavras demonstram que o caminho está certo. Vale a pena todo esforço e dedicação, apesar da falta de tempo para escrever e da ausência de retorno financeiro. Não é por isso que escrevemos, tu bem sabes. Importante é saber que o eterno aprendizado é longo, e árduo. Na literatura e na vida também. É o que penso. Grande abraço ! CACO”

TRÉPLICA:
“De fato, Caco, saber, para quem escreve, que suas palavras ficcionais e seus mundos inventados são capazes de ecoar naquele que nos lê, saber também que nossas palavras são capazes, depois de soltas, de chegar sabe-se lá onde, em quem, é sempre alegria e expectativa. Pelo menos comigo é assim. Por vezes, um e-mail, um torpedo, uma carta, um breve comentário em um lugar qualquer, dando conta do quanto nossa possibilidade de real tocou este ou aquele ser, sempre é bom quando bate à porta de nossa emoção, meio de surpresa. Com teus textos, foi assim, como já te disse. Desta forma, nada tem a agradecer, companheiro, ao contrário. Se há alguém merecedor de agrado é tu, que me possibilitou mergulhar em teus mundos tão cheios de emoção e desacomodamento. Obrigado.”

*Senhor X é bacharel em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS, e licenciado em Letras - Língua Portuguesa e Literatura, pela Faculdade Porto-Alegrense de Educação, Ciências e Letras - FAPA/RS; é Mestre e Doutor em Literatura Brasileira, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e professor de Literatura numa universidade.

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