CRÔNICAS DE VALADÃO
Detetive

Valadão perdeu um irmão em desastre de automóvel. Foi na estrada que liga Porto Alegre ao litoral Norte. Ataque cardíaco, logo após o segundo pedágio, antes do acesso aos municípios de Osório e Tramandaí. Chegou a ser atendido pelos socorristas da concessionária responsável por aquele trecho da rodovia, mas não resistiu e morreu na ambulância a caminho do hospital.

Era sargento da Brigada Militar, cedido à Assembléia Legislativa a pedido de um deputado. O acidente aconteceu durante uma campanha eleitoral, a caminho de comícios do governador candidato à reeleição. Foi o brigadiano quem incentivou Valadão a se profissionalizar como detetive particular.

Apesar de praça, era segundo sargento, o irmão cultivava boas relações com oficiais e comandantes da corporação. Ganhara fama como motorista de viaturas do Batalhão de Operações Especiais, acostumado a guiar em alta velocidade. Foi essa qualidade, inclusive, que o aproximou do tal deputado, para quem dirigia sempre com o pé colado. Cento e cinqüenta, cento e sessenta por hora, às vezes até mais, em carros turbinados, equipados com anti-radar contrabandeado da Argentina.

O primeiro caso
Valadão cumpriu todas as exigências legais, a começar pelo curso de formação à distância. Foi à Delegacia Regional do Trabalho e registrou-se na categoria profissional de Detetive Particular. Contribui para o INSS, tem empresa registrada na Junta Comercial e paga impostos à prefeitura. E o melhor de tudo, segundo constatou na prática: a profissão é livre de qualquer embaraço fiscalizador por órgão ou conselho.

Indicado pelo irmão aceitou o primeiro caso. O cliente era um desembargador aposentado, amigo do deputado estadual. Desconfiava que a mulher, trinta e cinco anos mais jovem, o traía com um amante da mesma idade. Foi à casa do homem, tiveram longa reunião a portas fechadas. Depois de ouvir perguntas e fornecer explicações sobre métodos de trabalho, informou o valor da empreitada. Dez mil reais, metade na hora e o resto ao final do trabalho. Estipulou prazo de trinta dias, ao término do qual apresentaria provas para condenar ou absolver a suposta adúltera.

O primeiro impulso de Valadão foi dar o golpe. Já estava com a grana no bolso. Em trinta dias, independente do que dissesse, iria faturar mais uma bolada. O velho era otário mesmo, deduziu, no dia em que foi apresentado à suspeita. Não precisava de investigação para compreender a natureza daquela pessoa. Pela linguagem e a maneira de vestir e se comportar, era óbvio que tratava-se de mulher de vida fácil, talvez ex-prostituta de boate de luxo. Chegou a perguntar para o cliente sobre a vida pregressa da esposa, mas ele desconversou e apenas disse que dava aulas em academia de dança. Inclusive, pensava em montar um estúdio para ela, possivelmente contíguo à academia que abrira para o filho, recém chegado da Europa.

Vira-latas se reconhecem pelo cu
Filho? E o homem explicou, constrangido. Júnior era personal trainer. Morava na Espanha, onde dava aulas de Jiu Jitsu e Muai Tai. Vivia clandestinamente, envolveu-se numa briga de bar com travestis, foi preso, cumpriu alguns meses e o deportaram para o Brasil.

Malandro por vocação tem uma qualidade que o destaca. Ao contrário das pessoas normais, suscetíveis aos achaques de escroques e aproveitadores, o malandro identifica de cara quem é embusteiro, talvez por tratar-se de dois iguais. É como os cachorros de rua, que se identificam e reconhecem quando cheiram a bunda uns dos outros.

Valadão abandona a idéia do golpe. Plano B. O caso era barbada. Com a ajuda do irmão brigadiano, grampeou de forma clandestina os telefones da casa do desembargador, além dos celulares da mulher e do filho. Em poucos dias reuniu provas. Fotos e gravações que comprometiam Júnior e a madrasta. Astuto, ao invés de apresentar o dossiê, pediu mais trinta dias de prazo, sem ônus para o cliente, que também prorrogaria o pagamento da quantia pendente. A proposta foi aceita, e com ela surgiram duas novas frentes de trabalho.

Primeiro visitou a academia de Júnior. O playboy tentou botar banca, fez que ia sair no soco, mas em seguida já estava manso, falando miúdo, apavorado com a idéia de perder regalias. O pior pode ser evitado, explicou Valadão, acenando com a possibilidade de manter tudo em segredo. Poderia dizer ao velho que nada descobrira. Era simples, bastava apenas um comando para que a coisa fosse esquecida. Proposta semelhante fez à madrasta, também interessada em colocar panos quentes no escândalo familiar. Ao final das negociações, ambos aceitaram as cláusulas de Valadão.

Júnior entregou de papel passado uma moto Honda 750, recém adquirida. E a mulher do cliente, ao longo de trinta dias, foi sodomizada em motéis de luxo. Terminado o prazo, por questão de ética profissional, entregou o dossiê prometido e recebeu cinco mil reais. O velho, apesar de decepcionado com a dupla traição, agiu com sabedoria. Magnânimo. Júnior foi enviado aos Estados Unidos para aperfeiçoar suas técnicas de combate no solo, e a mulher finalmente realizou o sonho da academia de dança. Caso encerrado.

Comentários

GIRL CROSSING disse…
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