INÉDITO EM 2003

O texto abaixo foi publicado no blog que antecedeu este “Exu Literato”. Intitulado “Cacos, o ofício solitário do autor desconhecido”, trazia edições semanais e teve 60 postagens inéditas. Foi um laboratório que me rendeu alguma visibilidade. Abriu portas para eu publicar em vários sites de literatura, sobretudo fora do Rio Grande do Sul. 

Comparando o que houve entre os anos de 2003 e 2015, em termos de avanço tecnológico da internet, numa analogia com a evolução científica conquistada pelo homem moderno, podemos afirmar que 12 anos de atraso nos remetem à idade média das mídias sociais. O falecido Orkut e o longevo Facebook foram criados em 2004. Antes disso, a grande ferramenta interativa ainda era o ICQ, programa criado em 1996. Alguém se lembra dele? É o avô do What’sAPP.

Abaixo, reproduzo e-mail enviado a um amigo que me entrevistou antes de embarcar para a II Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), em 2004, onde lancei meu primeiro livro e participei de oficina sobre o gênero romance. A atividade foi coordenada pelo premiado escritor Miltom Hatoum, com a participação de outros trinta autores estreantes de todo o país, incluindo vários gaúchos. A entrevista, concedida à Rádio Guaíba, foi baseada no texto abaixo. A troca de e-mails com o escritor e jornalista Luís Dill serviu como pré-pauta. Abaixo, reproduzo trechos das respostas. 

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Dill, desculpe a demora na resposta. A história das "grandes" editoras e de "tanta gente boa distanciada do grande público" é que me fez pensar antes de responder. Em literatura, sempre desconfiei das afirmações peremptórias e verdades absolutas. Escritor de Internet, como é o meu caso por enquanto, também é um rótulo do momento. Tenho lido muita coisa sobre o assunto. Opiniões favoráveis, empolgadas ou completamente destrutivas. Penso que também existe um ranço por trás do rótulo. O bom texto funciona de qualquer jeito, em qualquer veículo. Escrever e apagar, refazer, cortar texto, são tarefas cujo processo foi agilizado pela tecnologia. O desenvolvimento tecnológico é um aliado da criação literária, mas também pode ser um inimigo. Percorrendo a Internet, que é uma ferramenta para divulgar o trabalho e obter retorno imediato, às vezes tenho a impressão de alguns autores estão escrevendo mais do que leem, e isso não é bom sinal. 

O importante é não ter preconceitos. Literatura é arte, e as pessoas não podem ser obrigadas a compreender ou gostar daquilo que o artista entende como genial, ou único. Existe muito lixo na Internet, assim como no papel. Tem muita coisa boa, de credibilidade, mas o volume de besteiras publicadas ainda é assustador. 

É fato que a Internet tem permitido o surgimento de novos autores e experiências literárias. Também é verdade que o número de autores migrando para o livro impresso é ridículo, frente à totalidade dos pretendentes ao cargo de escritor. Verdade seja dita: poucos são os que realmente têm a veia do ficcionista. Destes, somente alguns serão os eleitos. 

Estou divulgando meu trabalho há menos de 12 meses. Vim pra Internet devido à dificuldade de acesso às editoras. Meu site foi lançado em outubro de 2003 e o BLOG recém completou 31 edições (semanal). A média é de 36,4 acesso/dia, variando conforme os lugares onde meus textos estão sendo divulgados. O maior chamariz de audiência, até o momento, foi o site do Marcelino Freire (EraOdito). O segundo maior foi o Paralelos.Houve um aumento de 30 acessos/dia, nos quatro dias posteriores à divulgação em EraOdito. 

Por causa de Internet, meu trabalho é mais conhecido fora do Rio Grande do Sul. No Rio e em São Paulo, por exemplo, tenho conseguido bastante espaço. Troco e-mails com diversos autores e jornalistas (João Paulo Cuenca, Cecília Gianetti, Mara Coradello, Augusto Sales, Ronaldo Bressane, Amilcar Bettega Barbosa - meu colega na Oficina do Assis, Leonardo Brasiliense, Daniel Galera, Daniel Pellizzari e vários outros).

Sites de literatura onde tenho publicado com relativa frequência: Marcelino Freire (EraOdito), Paralelos, Fausto Wolff, PD Literatura, O Caixote, Palavras Cruzadas, A Arte da Palavra, Pessoas do Século Passado e diversos Blogs de autores amigos, como os que citei acima.
Festa Literária Internacional de Paraty: estou indo como convidado do site Paralelos (Casa da Palavra), onde participo de uma oficina com o escritor Milton Hatoum. São trinta autores inéditos, de todo o Brasil, concorrendo a duas bolsas de R$ 16 mil.

Revista Paralelos: na Flip, ocorre o lançamento da primeira Revista Paralelos - estou entre os autores desta publicação.

Contos para ler cagando: livro promocional, independente, editado para divulgar meu trabalho na FLIP. Na volta, ainda no mês de julho, vou estar lançando o livro em Porto Alegre (Botequim das Letras). A distribuição é gratuita.

Como resolver o problema do nome: simples. Basta dizer que é um livro de contos. Contos- Caco Belmonte; ou ainda: dizer que se intitula Contos para ler no banheiro, e o título refere-se à brevidade da leitura, uma vez que a obra é promocional, de leitura rápida, com apenas seis contos e sete minicontos. 

Espero que estas informações sirvam para auxiliar na entrevista. Valeu !

CACO


----- Original Message ----- From: Luis Dill To: Caco Belmonte Sent: Saturday, June 26, 2004 2:48 PM Subject: Re: CACOS 

Oi, Caco!

Bom ter te conhecido ao vivo. Cara, muito, muito bom o teu livro. É o que sempre digo: tanta M sendo publicada pelas "grandes" editoras e tanta gente boa distanciada do grande público. 

Tchê, eu gostaria de fazer uma entrevista contigo a respeito do livro para meu espaço literário na Guaíba. O único probleminha é o título. Seria chocante demais para a maioria dos ouvintes da rádio, sem falar na comoção que provocaria na direção... Tens alguma sugestão? 

Mais uma vez parabéns! 

Abraços do 

Dill.

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