O que éramos e o que nos tornamos

Sair do lugar-comum tem sido uma obsessão desde a morte do último blog, decretada por falência múltipla de idéias, segundo atesta a certidão de óbito publicada na edição número 57, em 2 de agosto de 2005. Mais de ano sem postar e nenhum contato com as pessoas que acessavam “CACOS – O ofício solitário do autor desconhecido”. A bem da verdade, o único contato ficou por conta dos e-mails recebidos: meia dúzia de pêsames e condolências; outros mais exaltados, xingando ou pedindo explicações pela decisão editorial de encerrar a publicação. 

CACOS fez carreira porque trazia informações sobre autores de vários estados, lançamento de consagrados e estreantes, matérias jornalísticas, divulgação de eventos e todo tipo de movimentação relacionada à literatura. Além disso, tinha uma particularidade editorial planejada desde o começo, considerando o fato de que a Internet havia me permitido a formação de uma vasta e ilimitada rede de contatos, do Rio Grande do Sul à Paraíba: publicava narrativas de outros autores e conseguia espalhar meus textos também. 

Não vou perder tempo recordando a trajetória do cadáver, apenas lembrar que ele acabou me levando à II Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), em 2004, quando lancei o independente e esgotado “Contos para ler cagando”. Equilibrar-me nas pedras irregulares das ruas de Paraty – não tenho dúvidas quanto a isso - qualificou as fundações da estrutura que pretendo transformar em obra. 

Biscoito do Sortilégio Chinês

A parte boa da empreitada foi viajar ao Rio de Janeiro como escritor e obter relativo sucesso num trabalho que demandou seis meses, entre planejamento e execução. Alcançar o êxito num objetivo, compensa um fracasso que te leva outra coisa importante? Considere que os dois valores em questão concorrem em diferentes escalas. O cara estuda para ser escritor e vive um breve momento de ascensão, colhendo os primeiros e magros resultados como autor, em meio a uma selva povoada de talentos literários e falta de oportunidades. Ele deu o máximo que podia e chegou àquele ponto minguado do universo em expansão permanente. Por causa de suas limitações, outros valores foram relegados e o desleixo teve consequência desastrosa. Sentiu o clima? A coisa ergue de um lado e arria na outra parte. O Exu Literato é a realidade triturada e processada, regurgitada em ficção. Você chegou a este ponto da leitura e questiona qual é, afinal, o porquê de tudo isso?

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