EXISTÊNCIA EXPANDIDA

"Tudo que envolve literatura sempre é uma viagem pessoal. Ela pode ser diferente para mim, para você, para outra pessoa. Quando falo sobre isso, procuro olhar o que acontece comigo e externar isso da maneira mais honesta possível. Então, olhando para mim, por que dou essa importância à literatura? Porque ela funciona como uma permanente expansão do meu universo mental, espiritual, enfim. Ela abre a minha vida e a minha existência, me tira um pouco da vida prática, do trabalho, de todas essas tarefas cotidianas que a gente tem que cumprir até chegar ao final de um dia para começar um novo. Mais do que isso: dilata essa existência, amplia, dá outro sentido a ela. Mas não quero dizer que a literatura é mais importante do que isso — “isso” que afinal de contas é a vida. A gente nasce com um corpo e com uma cabeça que pensa, e esse corpo e essa cabeça vão morrer. E entre esse nascimento e essa morte, esse corpo, essa cabeça pensante está inserida em um grupo, se relaciona com outras pessoas, exprime sentimentos, reações a acontecimentos e pessoas. Isso é o fundamental, o primordial; é a nossa vida. A literatura parte daí. Se existe uma hierarquia, a literatura está subordinada a isso, sem dúvida. Mas ela pega isso tudo e transfigura, elabora de outra forma, de maneira a nos dar a capacidade — a mim, pelo menos — de refletir melhor sobre o fato de estar vivo, de se relacionar com os outros e tudo mais. Esse é o grande lance da literatura: dar a capacidade de refletir, de colocar questões. Justamente por trazer essa matéria transfigurada. É como se ela trouxesse o real de uma forma que ficasse mais fácil a reflexão, transformasse a vida em um tema de reflexão."

Em 6 de agosto de 2013, o projeto Paiol Literário — promovido pelo Rascunho, em parceria com o Sesi Paraná — recebeu o escritor AMILCAR BETTEGA. Formado em engenharia civil e mestre em literatura brasileira, Bettega nasceu em São Gabriel (RS), em 1964. É autor dos livros de contos O vôo da trapezista (1994, Prêmio Açorianos de Literatura), Deixe o quarto como está (2002) e Os lados do círculo (2004, Prêmio Portugal Telecom). Leia a íntegra.

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