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“CACOS, o ofício solitário do autor”. Neste blog semanal eu escrevia em 2004. Reproduzo a edição VINTE e DOIS, de 25 de abril a 1º de maio. 

Paralelo 30 - Estava quieto e vieram cutucar. Nunca havia escrito sobre Literatura. Fui repórter, editei repórteres, redigi notícias de toda ordem e até criei discurso político, mas não trabalhei em editoria de Cultura ou Segundo Caderno. Melhor assim. Liberdade para escrever agora. 

A pergunta foi longa - Meu nome é Delfin e sou jornalista do Correio Popular de Campinas/SP. Estou preparando uma matéria especial para este domingo sobre o panorama da nova literatura nacional, em particular nos últimos anos. A ideia é fugir da discussão dos rótulos que designados para os novos autores, como Geração 90 ou Geração Internet. Creio que a discussão sobre este panorama é maior que os rótulos. 

Será uma matéria grande e, por isso mesmo, elenquei muitos nomes para traçar o panorama. Vão desde autores consagrados pela crítica a estreantes, de autores que publicaram por editoras maiores a independentes, recém-publicados aos nunca publicados. Também alguns críticos estão recebendo esta mensagem. Por isso, resolvi mandar um primeiro e-mail com duas perguntas gerais que eu devo fazer a todos vocês, não só para já começarmos com a exposição sobre o conceito 'Geração', mas também para iniciar as entrevistas. Assim, à medida que as respostas chegarem, poderei desenvolver individualmente. 

1- Definir uma geração pode implicar em homogeneizar conceitos, estilos e ideias de autores diversos. Até que ponto é válido aglutinar os diversos estilos emergentes na nova literatura nacional em torno de uma nomenclatura?
2- Raras vezes o mercado editorial esteve tão aberto aos autores nacionais. Os novos nomes, apesar da resistência das grandes editoras, aos poucos vêm aparecendo também nelas. O que isso representa de fato: um desgaste da literatura estrangeira no país ou uma real valorização dos talentos nacionais? Ou, ainda, algo diverso disso? 

A resposta - Creio que as polêmicas e divergências sempre existiram no meio literário, em todas as épocas e lugares. Aqui no Brasil, citando um exemplo recente, vimos o debate sobre a tal de "Geração 90". E também o quiproquó sobre a rotulagem dos "malditos". Alguém decide que Fulano é maldito. Fulano diz que não, Beltrano faz a defesa. Malditos, benditos; tanto faz, o que vale é a obra.

Em literatura, sempre desconfiei das afirmações peremptórias e verdades absolutas. "Escritor de Internet", como é o meu caso (por enquanto), também é um rótulo do momento. Tenho lido muita coisa sobre o assunto. Opiniões favoráveis, empolgadas ou completamente destrutivas. Penso que também existe um ranço por trás do rótulo. O bom texto funciona de qualquer jeito, em qualquer veículo. Tem coisas de péssima qualidade, no papel e na Internet. Qual é a diferença, se o trabalho criador é o mesmo? Escrever e apagar, refazer, cortar textos, são tarefas cujo processo foi agilizado pela tecnologia. O desenvolvimento tecnológico é um aliado da criação literária, mas também pode ser um inimigo.

Percorrendo a Internet, que é uma ferramenta para divulgar o trabalho e obter retorno imediato, às vezes tenho a impressão de alguns autores estão escrevendo mais do que leem e isso não é bom sinal. Importante é não ter preconceitos. Literatura é arte, as pessoas não podem ser obrigadas a compreender ou gostar daquilo que o artista entende como genial, ou único. Existe muito lixo na Internet, assim como no papel. Tem muita coisa boa, de credibilidade, mas o volume de besteiras publicadas é assustador. 

É fato que a Internet tem permitido o surgimento de novos autores e experiências literárias. Também é verdade que o número de autores migrando para o livro impresso é ridículo, frente à totalidade dos pretendentes ao "cargo" de escritor. Verdade seja dita: poucos são os que realmente têm a veia do ficcionista. Destes, somente alguns serão os eleitos. Para cada João Paulo Cuenca existem 50 autores sem talento.

Na “Internet Literária” os falsos profetas da modernidade me deixam perplexo. É preciso diferenciar a idiotice da ignorância. O ignorante pode não ser burro, e sim mal informado. E o idiota pode ser o cara mais inteligente do mundo. Na Internet todo mundo é escritor, inclusive eu. Ninguém nunca leu o suficiente, sobretudo se está na faixa dos 25/35 anos, como é o meu caso. 

Divulgo meu trabalho há menos de 12 meses. Vim à rede pela dificuldade de acesso às editoras. Meu site foi lançado em outubro de 2003 e o BLOG recém completou 21 edições (semanal). A média é de 36,4 acesso/dia, variando conforme os lugares onde meus textos estão sendo divulgados. O maior chamariz de audiência, até o momento, foi o site do Marcelino Freire. O segundo maior foi o Paralelos. Houve um aumento de 30 acessos/dia, nos quatro dias posteriores à divulgação em EraOdito. 

Tenho procurado, na minha trajetória de autor desconhecido, fazer contato outros escritores. Esse contato, às vezes, acaba unilateral. O conteúdo dos e-mails não é comprometedor, quase todos serão publicados no devido tempo. Vou adiantando alguns nomes, agradecendo a gentileza das respostas. Quem não respondeu é bundão; seu nome não está relacionado aqui: Marcelino Freire, Clarah Averbuck, Nei Duclós, Jorge Rocha, Tony Monti, Cíntia Moscovich, Cecília Gianetti, Joca Rainers Terron e o músico Léo Jaime.

FIM DA EDIÇÃO VINTE E DOIS.

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