CRONIQUETA


O rádio noticiou sobre o homem baleado nas costas, ao tentar fugir em plena avenida Tramandaí no bairro Ipanema, em Porto Alegre. Por mensagem eletrônica, recebi a íntegra do boletim policial. Eram dois os que fugiam para não morrer, o outro escapou. Morreu um sujeito bem conhecido, fazia bicos numa floricultura e também era suspeito de reiterados furtos, pequenos roubos em invasões a residência. Apliques de toda a ordem.

Morador da vila contígua ao arroio Capivara, na mesma avenida em que tombou. O conheci de vista, desde garoto, mas não lembro em que momento desvirtuou e resolveu destoar, porque a família é trabalhadora, salvo dois ou três, num universo de vinte e tantos. Traste para uns, gente para outros, literatura para mim.

Eu o conhecia de vista desde o colo da mãe. Lá por 2009, deduzo, já tinha entrado em todas as casas de bobeira no Ipanema. Inteligente, se colocasse a “usina de talento” para o bem, talvez a coisa fosse diferente. Contudo, quem sou eu para julgar? É preciso nascer favelado para saber como é a vida paupérrima. Crescer com o esgoto na janela. Uma vez por ano, no mínimo, perder quase tudo nas enchentes.

Além disso, no meio em que está inserido e se descobrindo gente, boa parte do que enxerga à volta, no bairro de classe média alta em que vive, são os casarões com piscina e carros de luxo e as mulheres bonitas que nunca irão se interessar por ele. Que descanse, pois finalmente saiu do inferno. A maior parte das pessoas pobres sofre o tempo inteiro e jamais pensa em entrar para o crime. São guerreiros de força sobrenatural. Por outro lado, outros que não precisariam estar roubando …

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