EIS o HOMEM – o “NOSSO” SÉRVIO


“Uma das coisas que mais gosto é o pôr-do-sol no Guaíba”

Texto publicado originalmente no Facebook

Faz alguns dias, por causa da Copa do Mundo, postei duas frases a respeito. Houve mobilização e aqui retorno, em companhia de Carla Steglich, corresponsável por esse resgate importante, urgente, surgido desde a estreia dos sérvios no mundial de seleções da Rússia. Fazemos o registro porque era um grande cara, sorriso franco, apesar de tudo o que vivera. E merece ser lembrado.

O sérvio Kecman Dusan, 26 anos, trocou os campos de batalha na fronteira com a Croácia, extinta Iugoslávia, refugiado junto a uma família porto-alegrense. “O Dule veio para o Brasil durante a guerra, quando teve um passe para visitar a família. Então, saiu de lá para a Turquia, e o primo dele, Hans, casado com minha irmã, agilizou o contato e oferecemos refúgio no Brasil”, afirmou Carla.

Quatro meses após desembarcar, DULE, como o chamávamos, ainda aguardava resposta sobre o pedido de asilo encaminhado pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos. Era o primeiro caso protocolado por alguém daquela região e, complicando tudo, um soldado (em 1992, atuou na linha de frente contra os Croatas).

"Prefiro morrer, do que voltar a combater", afirmou na época em depoimento a jornalista Ângela Bastos, que cobriu a pauta em companhia do repórter fotográfico Friolin Valdir Gomes. “A Veja também veio depois, então conseguimos regularizar tudo, ele ficou enquanto teve vontade”, resume a amiga. O resto da história oficial vocês podem ler nos JPG.

Emoção maior, por óbvio, reservada àqueles que conviveram com ele no bairro Ipanema, à beira do rio – então ninguém chamava de lago. Éramos jovens, encantados e encantadores, às voltas do também saudoso Bar do Orlando, recanto boêmio, literato, musical, político e de todas as tribos naquela virada de décadas, entre os anos 80 e o início dos noventa.

Obrigado, Carla, por dividir isso conosco e nos conduzir de volta àquele tempo. São essas “melodias da vida” que nos levam com a alma, e nos arrastam àquele mundo de sonho abandonado à saudade das coisas que não temos palavra e resistem, ainda que haja passado o tempo de uma vida, de todas as vidas de todos os homens, até o último dia da criação.




Comentários