O PONTO DE VISTA




Reflexão que surge em boa hora. Quando a Teoria da Literatura explica a realidade. Do professor Dino del Pino, na obra Introdução ao Estudo da Literatura. Extrato do trecho mais amplo em que aborda a questão do ponto de vista:

O ponto de vista é um problema mais técnico do que teórico. Em que consiste o ponto de vista, no tocante à ficção? Trata-se, em última análise, do ângulo de que é narrada a história. Didaticamente, podemos observar a existência das seguintes modalidades de ponto de vista mais em uso: narração em primeira pessoa e narração em terceira pessoa.

A narração em primeira pessoa ocorre quando o narrador utiliza, como fonte expressiva, o discurso a partir do pronome pessoal eu e a perspectiva visual que lhe corresponde. Podem, dentro dessa variante, suceder dois casos. Num deles, temos o narrador protagonista, quando o ser que conta a estória é, ao mesmo tempo, a personagem principal. “Esta técnica – muito bem ressalta Aguiar e Silva – revela-se com efeito especialmente adequada para o devassamento da subjetividade da personagem central, uma vez que é ela própria quem narra os acontecimentos e que se desnuda a si mesma”. Podemos comparar a forma acima descrita com a técnica confessional. Noutro caso temos o narrador que se comporta como um mero observador ou, ainda, participa da ação como personagem secundária.

A narração em terceira pessoa se dá quando o narrador já está, em geral, situado a maior distância daquilo que é narrado. Podem ocorrer, também, no mínimo, dois casos. Teremos o chamado narrador onisciente quando o ser que narra a estória, na maior parte dos casos o próprio autor, se comporta como um deus que conhece e apresenta as ações das personagens vistas não apenas sob o prisma da exterioridade, mas, ainda, penetra na intimidade psíquica das mesmas, dominando-lhes os desejos, as reações íntimas, as angústias, os pensamentos e sentimentos. Já se constitui em outro caso o narrador que, embora utilizando a terceira pessoa, limita-se a descrever as atitudes das personagens apenas naquilo que têm de exterior. Nesta segunda hipótese, estaremos diante de uma narração onde se verifica maior objetividade e na qual predominará, com maior densidade, a técnica realista, uma vez que todos os gestos, todas as manifestações exteriores das personagens serão importantes para caracterizar a sua interioridade, cuja descoberta fica a cargo do leitor.

Como se pode supor, aqui estão enunciados apenas os aspectos fundamentais da questão, visto que, principalmente na ficção moderna, o problema do ponto de vista tem sido objeto de inúmeras experiências com a finalidade de, por parte dos autores, propor sempre uma realidade literária mais rica de sugestões. Técnica atualmente em desuso é a epistolar, quando o autor apresenta o enredo mediante uma série de cartas que entre si trocam as diversas personagens.

Em muitos casos, poderemos encontrar, ainda a fusão das diversas técnicas, no sentido de um enriquecimento da narrativa.

*Dino del Pino, da obra “Introdução ao Estudo da Literatura”, no extrato do trecho mais amplo em que aborda a questão do ponto de vista.

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