A TEOGONIA DE CAQUÍODO



Um criador entediado resolve chocar o ovo cósmico que se parte e expande indefinidamente, com vida própria e replica ele mesmo, zilhões de vezes ao infinito, sem fim ou começo. Daí esse cara percebe o que fez e se esconde, ora aqui ora ali, na pele de algo imperceptível, só curtindo a criação que vai se ajeitando e expandindo.

Irredutibilidade do acaso versus complexidade irredutível. Lua cheia, irmã mística, o mundo prescinde de nós. Os que vieram antes, e bem antes, davam um sentido maior às coisas que hoje relevamos, retiramos o valor do menor que agrega e preenche espaço no vazio. Põe alma na equação outra vez. Paradoxo, as descobertas mais importantes também são, inclusive na ciência. Certifico que estamos aqui, sapientes e buscadores lógicos, mas tudo ocorreu por acaso, a criação, desde o princípio não há nada, nunca houve, porque não querem que haja, ou não sabem o que houve. Isso é laudo, parecer da ciência. Publique-se, registre-se, faça-se cumprir. 

Aluado. Esses corpos que fazem “pressão abaixo”, mantém as coisas no devido lugar. Tudo gira para ficar parado, mas ninguém percebe, tamanha a velocidade louca em que viajamos no Cosmos. Quem sabe, retiramos a lua de seu lugar lá em cima, fora de órbita, para ver o caos resultante aqui embaixo? O mesmo acontece com as pessoas, quando nos atocham o mundo sem alma ou propósito maior, que não o lucro fácil e os títulos inventados pelo homem para se arvorar maior do que o outro. E fazemos eleições. 

Entenda “Deus” como aquilo que você não sabe, talvez sinta, mas a ciência nega, e mesmo assim somos lógicos e estamos aqui sem explicação, porque alguém decretou que não posso validar o que sinto, sem o carimbo de outro homem, que também não sabe muita coisa. E ainda querem mandar em mim. Se escrevemos livros sagrados para explicar nossa presença inexplicável, preciso pensar em escrever a minha própria teogonia.

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