FALAR DO PROIBIDO AINDA É TABU


Um dos assuntos pujantes do momento é a proposta governamental aos adolescentes, sugerindo o método contraceptivo da abstinência para evitar a gravidez precoce. Além disso, ainda temos o paradigma do controle do afeto alheio.

Me perdoem, preciso falar de coisas escondidas e usar termos deselegantes, para não dizer chulos, mas estamos aqui entre adultos que movimentam veículos orgânicos, “máquinas de última geração” controladas remotamente por velhas almas ancestrais, essa energia essencial que permanece parcialmente inacessível e ainda nos pertence, sendo possível acessá-la em doses homeopáticas, muito longe ainda da potência máxima e bloqueada para nós, por precários. Somos alunos a caminho do inominável que não pode ser e nem será, porque sempre foi.

Então, naqueles anos 80 de minha adolescência, os rapazes transavam com outros rapazes e diziam que não eram sequer Gillette, gíria de então para designar o bissexual que "corta nos dois lados". Não existia a palavra homossexual, somente gay e viado, puto ou fresco. "Sem beijo e sem ser penetrado, ou praticar sexo oral, gay é somente o outro, não eu". Quem viveu no período sabe bem como era. Desconheço no lado das mulheres, como faziam essas coisas e o que diziam, mas machorra era a palavra corrente para designar as lésbicas. Antes disso, sapatão e fanchona, que ouvi da boca de minhas falecidas avós terrenas nesta passagem recente, tias velhas também.

Esse ranço é anterior a mim. Na antiguidade, entretanto, era bem comum e houve até um imperador romano, Adriano, que ergueu monumentos a seu efebo dileto, estátuas inclusive (foto), em honra à memória do belo Antínoo, que ele divinizou também por decreto, após a morte do amante que conheceu aos 13 anos, fedendo a leite. Numa viagem ao Egito, consta, o adolescente caiu no Nilo e sumiu nas águas, tragado pelo rio ancestral. Não se sabe se houve alguma atividade conspiratória ali, talvez sim, ou acidente, mas a história registra tudo em quase todos os detalhes. Antínoo tinha poder político e inimigos. Que eles faziam sexo e todos sabiam, com certeza é verdade.

Tem até uma palavra para essa função na época: catamita. Antínoo, catamita seria, se apenas passivo fosse. Nunca saberemos o que acontecia entre ele e o imperador, se era possuído somente.

Meus irmãos, gente é gente, independentemente de cama, com quem se deitam e o que fazem entre quatro paredes. Importante é a índole, o resto é "economia pessoal". Contudo, está muito em voga sim, essa patrulha do afeto alheio. Ao final, por sorte, também isso é vento que passa. Infelizmente, estamos num momento adverso, em termos de humanidade e compreensão das coisas para além do dogma, que é decreto do homem.

Sou do tempo em que os mais velhos nos levavam para estrear em prostíbulos. Eis o que era. Isso nunca acaba e houve épocas remotas em que os prostíbulos eram institucionalizados, com outros nomes, mas ainda lupanares. Ao mesmo tempo, da minha adolescente memória, lembro de muitas histórias. Homens e mulheres que se iniciaram por descoberta com o sexo oposto, em namoros e encontros, "ficadas", bolinações e lambidas experimentais, seios surgindo do sutiã e zíper abrindo bermudas. Pela primeira vez, mãos femininas tocavam intimamente aqueles homens, até então "sapateiros", como dizemos do pescador que não pesca nada, açulados apenas pela masturbação solitária. E vice-versa. 

Fui iniciado por parente aos 14 anos, não meu pai, na boate Kiwi defronte à Sociedade Amigos do Balneário Ipanema. E na esquina de nossa casa funcionou a Ilha da Fantasia. Na rua ao lado, outro puteiro famoso batizado com o nome da via onde estava situado, Saúna Gávea.

Então, essas coisas do homem não mudam tanto assim, apesar dos decretos do próprio homem.

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