VELHAS LÁGRIMAS DE SANGUE


A julgar pelo que leio nas redes sociais, parece que o Brasil é dos únicos países que desejam fazer a “coisa certa”, LIBERAR TUDO. Os países desenvolvidos, que são desenvolvidos por causa da baixa escolaridade de seus habitantes, ao contrário de nós que somos uma nação em desenvolvimento com pessoas letradas de estudo acima da média mundial, fizeram tudo errado ao fechar os comércios e decretar lockdown, onde houve isso.

As pessoas autoproclamadas de bem são as que desejam manter tudo funcionando. As pessoas autoproclamadas de bem não pararam de circular para o supérfluo em nenhum momento da pandemia. As pessoas autoproclamadas transmitem o vírus, eventualmente também adoecem e morrem. Eu tenho medo das pessoas autoproclamadas de bem.

A autoproclamada pessoa de bem é duvidosa e problemática, apenas por se declarar assim.

A pandemia não resolveu essa parte deficitária, não foi suficiente para a humanidade demonstrar maior empatia, aqui no Brasil sobretudo. Imagine o que aconteceria, por exemplo, em caso de catástrofe ainda pior, tipo a falha de San Andreas explodindo e cobrindo o planeta de cinzas por uns dois anos? Matariam com eficiência em nome da vida e da sobrevivência. Seriam “legítimos” os extermínios e chacinas de vulneráveis; pobres, gente sem trabalho ou deficiente. E podes colocar nessa conta também os gays, travestis, artistas e escritores, toda essa gente indesejável com o cacoete de pensar e formular perguntas incômodas, ou que apenas incomoda por existir em sua diversidade, seja qual for.

AINDA SOMOS A HORDA PRIMEVA, passados milênios. Não é preciso conhecer a psicanálise freudiana para perceber isso com muita facilidade. Majoritariamente, somos os mesmos homens e mulheres das hordas primevas. A diferença é que temos o verniz conhecido como civilização, conhecimento, tecnologia, ciência e progresso. Ou seja: ficou ainda pior, porque os homens e mulheres estão instrumentalizados para agir com o mesmo ímpeto das hordas primevas. Quem aumenta a ciência (quanto mais eu conheço e aprendo sobre os homens), também aumenta a própria dor. Muito desejo, muito sofrimento. Isso é Eclesiastes esmiuçado. Gosto desse livro, embora não seja cristão, apesar de católico cartorial para fins estatísticos (batizado).

Hoje em dia, quanto menos estudo e menos leitura acumulada, mais respostas os brasileiros têm. Afrontar por afrontar, negar por negar, apenas porque alguém disse que pode ser, está no DNA mental de muita gente no planeta. O Brasil é um campo fértil para proliferar essa gosma do conhecimento que se entranha até os ossos e afeta os espíritos. Estamos vivendo numa sociedade de “sábios”, maioria tem respostas para tudo. As pessoas têm mais respostas do que perguntas e isso não pode ser boa coisa. Alguns convictos estão a um passo do fanatismo.

CONTER O AVANÇO DA COVID – EQUAÇÃO COMPLICADA
Empresários estão cumprindo os protocolos sanitários, embora não seja possível saber onde estavam as pessoas, antes de entrar nessas casas comerciais e consumir. Na maior parte do tempo, tivemos liberdade total para circular sem restrição alguma, mascarados ou não. Alguns colocam as máscaras somente nos ambientes obrigatórios (lojas e condomínios residenciais; nos locais onde consumimos bebida e comida às mesas, máscara exigida apenas para entrar e acessá-las. Depois libera geral, inclusive para tossir e espirrar, falar cuspindo perdigoto).

Alguns dizem que não há comprovação científica, nada concreto que aponte a abertura do comércio como motivo do aumento nos casos em Porto Alegre. Da mesma forma, outros apontam a inexistência de comprovação em contrário. Por óbvio, são as pessoas que levam o vírus às outras pessoas. E por onde andam essas pessoas que se contaminam e disseminam? Andam à Bangu por todos os lados. Vão à praia, voam de avião e rodam nos ônibus intermunicipais, dentro das cidades nos ônibus de linha e lotações. Os carros Uber são aliados da pandemia, levando gente a toda parte. Jovens e adultos se aglomeram clandestinamente: aqui é Brasil, afinal.

Os jovens, sobretudo, são os campeões no ranking do “foda-se”. Quase ninguém se importa com a morte da pessoa desconhecida. Isso é problema da família do morto. A vida é agora, basta observar o entorno e perceber: não existe pandemia, existem máscaras apenas. A letalidade da Covid, dizem e muitos podem contestar (afinal, hoje em dia estamos acostumados a negar a ciência e até rejeitar os fatos históricos como se fossem invenções para nos manter sob controle e alienados), chega a 2%. Esse percentual, em tese, surge insignificante. Contudo, se pegarmos o total da população e aplicarmos esse índice, veremos que o número de pessoas mortas é enorme.

Hoje, aos 48, agradeço a meus pais que me levaram para vacinar contra Sarampo, Poliomielite e outras doenças que estavam praticamente erradicadas e, graças às pessoas que não acreditam mais na ciência, agora estão de volta no Brasil e noutros países onde grassa esse sentimento obscurantista de retrocesso, negando por negar, ou então porque as pessoas estão fixadas na visão delirante de que tudo é uma grande conspiração comunista comandada pela China.

O homem que nunca esteve num laboratório como cientista, nunca fez um trabalho científico em qualquer área do conhecimento, agora se entende sábio para falar em “ciência do conhecimento e da manipulação”. O salto evolutivo que aumentou o tamanho e a capacidade de processamento dos nossos cérebros também condenou milhares de espécies à extinção e o planeta inteiro à morte.

No dia em que nasceu o primeiro homem igual a nós, os “anjos” choraram lágrimas de sangue.

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