O cômico e o trágico em “Contos para ler cagando”
“Contos para ler cagando” é um título engraçado, mas que não faz jus aos textos que lá estão. A “literatura” de banheiro, geralmente, é leve e descontraída. Eu, por exemplo, gosto das páginas policiais, mas cortei os jornais para reduzir custos.
Em “Contos para ler cagando”, de Caco Belmonte, 2004, temos contos que abordam temas complexos, como a passagem do tempo, escolhas erradas, amores errados, enfim temas universais da boa literatura. Destaque para “Putz”, “Joel” e “Adalgisa”.
“Putz”, por exemplo, conta a história de Bagre, que, para ganhar seu sustento, trabalha em uma padaria, de terças a domingos, das 19h às 3h30. Ao contar a história de Bagre, o narrador olha o presente com o olhar do passado, mas, além do saudosismo, há a triste constatação de que “a responsabilidade é uma merda” e com ela se vão todos os sonhos de guri.
E para não dizer que não falei das flores, há também os minicontos, com destaque para “Olhos de Paulo Coelho”. Inspirado no livro “Na Margem do Rio Pietra Sentei e Chorei”, de Paulo Coelho, por quem o sr. Belmonte parece nutrir estreitas relações “místico-espirituais”, em “Olhos de Paulo Coelho”, temos: “À beira do lago Guaíba sentei numa pedra, fumei um e ri.”
Despretensioso e instigante: assim é “Contos para ler cagando”.
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