O ÚLTIMO CONCERTO DE JAZZ


"O último concerto de Jazz", de Luiz Reni Marques, é uma obra que poderia ser indicada no programa Adote um Escritor, da Secretaria Municipal de Educação (Porto Alegre). Ao contrário dos temas pujantes do momento, que se tornam necessários e a discussão é compulsória, como questões de gênero, racismo e defesa do meio ambiente, esse livro não tem o apelo da urgência por atualidade. É um romance histórico-contemporâneo. Se inicia no tempo em que o Brasil ingressa na Segunda Guerra Mundial, e termina no final da primeira década do século XXI.

Por ausência de lobby (o livro foi lançado pelo autor em 2019, e não por editoras comerciais com experiência em produção de obras que se encaixam nas demandas escolares), o autor vai continuar desconhecido dos alunos municipais que estudam, por exemplo, nas imediações do bairro Rio Branco, local onde residem o protagonista e sua família. 

Os primeiros modelos de ônibus que circularam na cidade, concomitante aos bondes, além de outros cenários como o bairro Independência e o Centro Histórico, especificamente o Clube do Comércio nos áureos tempos dos bailes orquestrados, estão descritos ao longo da narrativa, habilmente inseridos pelo autor para “ilustrar visualmente” a trama. Da mesma forma, pinceladas da vida rural.

Iniciei a “resenha” com a afirmação de que o livro poderia ser indicado para leitura no ensino médio das escolas municipais, porque a toada do narrador me remeteu às obras da Editora Ática, lidas por alunos como eu, nos anos 80, por meio da célebre Coleção Vaga-Lume. “O último concerto de Jazz”, editado pelo autor, não é tão bem-acabado como os livros da grande editora. Eu vi pequenos desajustes gráficos, e também achei falta de marcação mais contundente, visualmente falando, para delimitar as cenas que se sucedem em paralelismo, considerando que o outro cenário é a Itália às vésperas da libertação pelos aliados. O irmão do protagonista é expedicionário da FEB, considerado desaparecido em combate, embora vivo o tempo inteiro. E o resto não vou adiantar, senão estrago o prazer da leitura que se desenrola como um roteiro de filme.

O que o jazz destacado no título, afinal, tem a ver com o livro? A música está presente em boa parte dos tempos narrativo e cronológico, amarrando também a parte afetiva que liga as personagens entre si, para além do vínculo familiar. Já o livro que coloquei ao lado, na foto que ilustra esse texto, está ali porque as descrições do teatro de operações na Itália, sim, poderiam ter saído de Rubem Braga como fonte de pesquisa, ou obras especializadas lançadas pelo Exército Brasileiro (não são raras, é preciso saber onde encontrá-las).  

Por fim, diria que o livro “peca” por excesso de explicações de contexto, considerando que eu, leitor experiente às vésperas dos 50 anos, já tinha conhecimento de quase tudo o que foi inserido para encorpar o livro. Se fosse o editor, e isso serve para muitos dos livros que me chegam às mãos, “O último concerto de jazz” perderia gordurinhas ao longo das páginas. Se eu fizesse isso, entretanto, o livro já não poderia ser recomendado para leitura no ensino médio porque, justamente essas informações preciosas, das quais já ouvi falar N vezes e são desnecessárias a mim, adolescentes e jovens adultos desconhecem. 

Talvez, a ênfase do autor em explicar na miudeza, sumários descritivos entremeados às cenas, derive do fato de que Luiz Reni Marques foi professor de redação jornalística no curso de jornalismo da PUCRS, trabalhou em jornais, revistas e fez trabalhos avulsos para a agência de notícias Reuters. É o segundo livro ficcional do jornalista, que antes já havia lançado a novela “Noite longa demais”

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