Ainda não cheguei, mas estou a caminho. Quem pensou ter me visto, não era eu. Quando me viram eu já havia passado. Se olharem para trás, nas curvas do tempo imemorial, desde lá estarei vindo outra vez, sempre despercebido.
Duas das maiores invenções criadas pelo homem para controlar outros homens, e fazê-los dedicar boa parte do tempo diário a obrigações permanentes, até o fim de seus dias, são as religiões e as redes sociais. Nos dois casos, podem ser utilizadas com fins elevados, ou malignos. As religiões elevam o espírito e podem maltratar também. Discurso dogmático inquebrantável: isso é assim e ponto final. O mesmo serve às redes sociais: aproximam pessoas, permitem a publicação de textos que nos fazem pensar, vemos fotos de lugares interessantes e gente bonita; ao mesmo tempo, estamos entregando nossas almas e mentes.
Se a "coisa" é gratuita para entrarmos, então o produto somos nós. Não sou eu quem diz isso, são os inventores das redes sociais e executivos dissidentes de Twitter, Facebook, Pinterest, YouTube e assim por diante. Eles criaram os programas que aprendem sozinhos e sabem tudo sobre nós, cada vez mais, a serviço de quem paga por interesse em nossas atenções. Se eu falo muito em Bolsonaro, o programa me mostra mais Bolsonaro. Se falo em Ioga e Budismo, a mesma coisa acontece. Nós construímos um monstro, ou o beato, conforme as nossas monstruosidades e beatitudes.
Nas redes sociais eu vejo fotos, majoritariamente. Textos, leio poucos, alguns muitos bons. Se a riqueza interior desse pessoal das fotos for linda como as partes desnudas ou seminuas dos corpos sensuais, almas exuberantes e rígidas como os músculos, ou grandes nádegas e peitos rijos que surgem em nossas telas de computador, há uma grande chance de que sejam pessoas ungidas pela graça, apenas ainda não enxergamos isso, por egoístas e cegos, observamos o exterior que nos mostram a todo instante.
Muitos senhores sexagenários ou mais, alguns homens de meia idade como eu, amigos que tenho aqui e fora da vida virtual, publicam fotos de belas mulheres jovens pulsantes calipígias peitudas, gostosíssimas, e alguns reivindicam cotidianamente o direto de posar como macho alfa comedor, refutam a caretice da patrulha politicamente correta. Não se dão conta, mas, todos percebem que eles têm um fundo de nostalgia por aquilo que nunca tiveram, salvo em pensamento e na palma da mão, talvez pagando em prostíbulos. É a sina do punheteiro inveterado.
Desinfla, é a primeira coisa que tenho a dizer às pessoas que se incomodam comigo, sobretudo após a leitura das coisas desimportantes que escrevo. Eu te vejo e ainda me reconheço em ti, é a segunda observação que faço. Me reconheço em ti, apesar das diferenças gritantes e todas as coisas que nos tornam incompatíveis, inviabilizam a nossa convivência. Dito isso, encerro com aquilo que desejam a mim: vão tomar no cu, vocês também!
DIÁLOGOS
- Ai, férias é o máximo. Adoro!
- Porra, eu também. Saudades de quando podia.
- Levanta as mãos pro céu, criatura. Se não tira férias, sinal de muito trabalho. Não é isso?
- No meu caso, não. É desemprego mesmo.
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