As crônicas da obra “Energias renováveis, velharias clássicas e uma certa obsessão positiva”, poderiam figurar nos grandes jornais diários da imprensa brasileira, talvez inseridas em suplementos literários e cadernos especiais. Doutor em engenharia, professor na UFRGS e pesquisador do CNPq, Alexandre F. Beluco é um escritor que não se encaixa em nenhum molde, nem consigo lembrar de outro cronista que aborde os temas que escolheu, senão com o viés do discurso acadêmico encruado na pegada literária do autor. Apenas isso, entendo, já é o suficiente para prestarmos atenção nas 150 páginas, lançadas pela Editora Metamorfose em 2021.
Dono de escrita fluída, Beluco vai além. Por vezes, a narrativa remete ao ensaio, sem a pegada sonolenta do ensaísta, geralmente desacostumado à fluência narrativa dos bons ficcionistas, porque o narrador que nos prende à leitura precisa ser ágil, deve evitar clichês e firulas que acabam soando como pedantismo, ego agigantado por enorme vontade de mostrar erudição. E o leitor atento percebe, entedia-se, larga o livro e amaldiçoa o autor.
A prosa de Beluco, acredito, tem a capacidade de fazer com que as gerações Y e Z, aproximem-se dos assuntos de interesse das gerações X e Baby Boomer. Ao mesmo tempo, os textos estimulam a curiosidade dessas pessoas com maior experiência de vida (Baby Boomer e X), para os temas que costumam ser atrativos às gerações mais recentes (Y e Z)*.
Na prática, preso ao texto envolvente, o leitor não é tentado a passar adiante nas páginas, pulando capítulos, como é possível fazer em qualquer insosso livro de contos. “Energias renováveis, velharias clássicas e uma certa obsessão positiva” é obra que esclarece, informa e, ao mesmo tempo, levanta questionamentos ao abordar certos temas instigantes, outros urgentes, todos sem respostas definitivas, ou ainda com muitas variantes possíveis.
Falando assim, parece que me refiro a trabalho hercúleo, grandioso como as antigas enciclopédias. Não é o caso, o livro tem um eixo com raio de alcance bem menor. Ao longo das páginas, há um fio condutor que costura as crônicas e as coloca em escaninhos; porém, não a miscelânea geral de A a Z, da pré-história à conquista do espaço, como as extintas publicações citadas acima. Conforme anunciado na introdução, embora com outras palavras, o autor aborda temas com os quais lida cotidianamente, e também os desdobramentos que surgem a partir desses marcos, descambando para uma “certa obsessão positiva”, como está dito no título, que alude aos interesses particulares de Beluco, como a paixão por carros antigos e motores de dois tempos, o apreço pela literatura e a produção cinematográfica dos cânones da ficção científica.
Ouvi dizer que o seu próximo livro é ficcional. Uma obra de contos que, aposto, virá recheada desses elementos. Já estou aguardando o lançamento.
* Geração Y (Millennials, ou geração do milênio, composta por indivíduos que nasceram entre 1985 e 1999). Geração Z (nascidos a partir de 2000). Geração X (período de 1965 a 1984). Baby Boomer (quem nasceu entre 1945 e 1964).
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