Da mitologia, a história de Leandro atravessando a nado o Helesponto, hoje estreito de Dardanelos, sempre foi considerada impossível. Em 1810, o poeta aventureiro aristocrata, Lorde Byron (foto), resolveu atravessar a nado o curto trecho que separa os continentes europeu e asiático. Nadou pouco mais de uma hora para fazer a travessia. O feito impulsionou a natação como esporte e entretenimento na época, embora a própria história da humanidade se confunda com a prática. Egípcios, assírios, ameríndios e outros povos descobriram a eficácia da natação no dia a dia. Estudiosos acreditam que alguns movimentos atuais são herança daqueles povos. Para os romanos, a natação era tão importante que fazia parte da formação dos soldados.
Se o conhecimento fosse um oceano e a travessia segura exigisse grandes embarcações com experientes capitães, eu diria que boa parte das pessoas, me incluo entre elas, não teria a menor condição de navegar em águas profundas, no máximo cabotagem. Somos pouco mais do que barquinhos de papel dobrado e boiamos ao sabor do vento em lâminas d’água. Nosso conhecimento é amplo e superficial.
Quem lê pouco, entende pouco. Quem não lê, não entende nada. Faz alguns anos, pesquisa encomendada pelo Instituto Pró-Livro apontou que 44% dos brasileiros não são leitores, não leram sequer um livro nos últimos anos. Apenas 33% disseram que não têm dificuldades para ler. Entrevistados alegaram vida corrida e falta de paciência, que na verdade é a preguiça de aprender a se concentrar, e também o apelo das novas tecnologias que levam as pessoas a perder tempo com coisas menos edificantes, ou muito simplificadas, às vezes falseadas.
Na escola, sempre tive enorme vontade de aprender muito mais sobre certos temas, mas nunca houve quem os ensinasse. É porque não estava no currículo. Nós sabemos, por exemplo, que os rudimentos da civilização ocidental surgiram na Grécia, posteriormente incorporados por Roma. Desde então, muita coisa foi diluída e chegou a nós, milhares de anos depois, apenas em fragmentos. O mesmo pode ser dito daquilo que restou dos povos originários.
Aqui do território que hoje conhecemos como América do Sul, temos conhecimento da origem de algumas coisas óbvias do cotidiano, incorporadas e mantidas pelo uso diário ao longo do tempo, como o chimarrão e certas palavras do tupi-guarani. Grande parte da cultura incorporada passa despercebida. Em termos de linguística, a família do tronco tupi foi a maior, espalhada por um vasto território, diversificada em mais de uma dezena de línguas, com algumas diferenciações entre si, empregadas originalmente no imenso espaço geográfico hoje demarcado como Brasil, Colômbia, Peru, Bolívia, Paraguai, Argentina, Guiana Francesa, Venezuela. José de Anchieta, isso aprendemos na escola, foi o jesuíta que pesquisou e redigiu a primeira gramática de tupi-guarani.
Somos uma mistura de tudo o que veio antes e nos tornamos algo completamente distinto. Nós falamos do que foi herdado, mas pouco sabemos a respeito, apenas repetimos um conhecimento que “passa de raspão”, incorporamos a superficialidade aos nossos pobres repertórios. E quando utilizamos essas informações precárias, geralmente para demonstrar erudição nas redes sociais, em redações de processos jurídicos, nos meios de comunicação de massa tradicionais e também na internet, fazemos de peito inflado com pompa e circunstância, senhores da banalidade.
Atire a primeira pedra quem nunca postou uma frase de alguém reconhecidamente sábio, vulto na história da humanidade, filósofo, religioso, escritor consagrado de outros tempos, etc, a respeito de quem pouco sabemos e nunca lemos nada, ou quase nada, daquilo que tenham escrito.
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