Faz 20 anos que eu tive o meu primeiro blog. Escrevia sobre livros e criação literária. Também falava do meu microcosmo umbilical e comentava alguns fatos noticiados pela imprensa. Foi em 2003, eu nem lembrava, redescobri ao rever os arquivos do blog, que a Maria do Rosário e o Bolsonaro tiveram aquele famoso primeiro embate na Câmara Federal. Jair ainda estava quase totalmente desconhecido, era um ninguém em nível nacional e, quando o seu nome vinha à tona, geralmente surgia em tom de gozação por ser uma nulidade do baixo clero na Câmara Federal, entusiasta da ditadura que concedia entrevistas polêmicas na virada do século passado, defendendo guerra civil e admitindo que praticava a sonegação fiscal.
CACOS
Número TRÊS – de 31 de outubro a 07 de novembro de 2003.
As cartas
Meu grande amigo Jorge Franco Franco, jornalista e dramaturgo, autor de “Réquiem Para um Rato”, criou um bordão maravilhoso, transcendental. “As cartas” serve para denominar uma verdadeira gama de possibilidades. Quando a pessoa está assim, meio introspectiva, pensando com seus botões, vem alguém e pergunta:
- O que houve, fulano?
- “As cartas”.
Ou seja, existe naquela resposta um quê de melancolia e sorumbatismo. Outra possibilidade de uso para “As cartas” é quando o sujeito está planejando o seu futuro, analisando o tabuleiro da vida e decidindo qual será o movimento de suas peças. “As cartas” também diz respeito às informações que se acumulam sobre determinado assunto, como num jogo de canastra, onde a qualquer momento pode surgir um curinga e definir a próxima jogada. A versatilidade desse bordão é surpreendente. “As cartas” pode ser tudo, e também pode não ser absolutamente nada. Sua utilização é recomendada, inclusive, quando nos referimos àquela pessoa extremamente pedante, que se vangloria à toa, pavão despudorado, mas que na verdade é uma verdadeira besta.
O Franco, desde que veio do Rio Grande, conseguiu o emprego que muitos jornalistas gostariam de ter. Ele trabalha na assessoria de comunicação da Vinícola Lantier, vive provando vinhos e beliscando pedacinhos de queijo, salame e copa.
CACOS
Número QUATRO – de 07 a 14 de novembro de 2003.
Zequinha Barbosa, deputada Maria do Rosário e senadora Patrícia Gomes. As duas parlamentares, aparentemente, nada têm em comum com o medalhista olímpico. Errado. Rosário é relatora de uma CPI mista, presidida pela ex-mulher do ministro Ciro Gomes, formada no Senado para investigar situações de violência e redes de exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil. E o nosso Zequinha, suspeito de participação em orgias com adolescentes - naquele mesmo caso envolvendo um grupo de vereadores tarados - chegou a prestar depoimento na tal CPI. Aliás, aqui em Porto Alegre houve uma audiência da CPI. Foi no Solar dos Câmara, com direito a aparato policial e depoentes vestindo toucas Ninja. Ótimo para fotos e captação de imagens. Jornais daqui e do centro do país, noticiário das sete e Jornal Nacional.
Não podemos confundir o atleta com o suposto tarado. Não quero saber se o Zequinha é inocente ou culpado. Se tiver culpa no cartório, que pague suas contas na Justiça. Para mim, o que vai ficar marcado são as conquistas do atleta Zequinha. Confundir o atleta com o suposto tarado é a pior coisa que poderia acontecer. É o mesmo que negar a genialidade do Maradona, simplesmente porque ele cometeu um desatino, trocando sua carreira futebolística por uma carreira de cocaína.
A Feira Espraiada
A Feira do Livro de Porto Alegre está ficando cada vez maior. Aumenta o número de bancas e encolhe a Praça de Alimentação. Ainda bem que os bebedores de cerveja e destilado podem contar com as atrações periféricas, como o Margs, o Santander Cultural, o Memorial do Rio Grande do Sul e os bares no entorno da Praça da Alfândega.
CACOS
Número CINCO – de 14 a 21 de novembro de 2003.
IBOPE
Chegamos à quinta edição de CACOS. O que começou de forma despretensiosa, meio irresponsável, acabou ganhando corpo e adquirindo frequência. Tenho controlado o gráfico de acessos no BLOG. Ainda é baixo, comparado com outros campeões de audiência. Também já constatei que o número de leitores dispostos a interagir é insignificante. A cada trinta acessos, menos de duas pessoas deixam recado. Outro diagnóstico: CACOS apresenta picos de audiência, diminuindo o número de acessos a partir de quarta-feira (creio que esse fenômeno se deve à atualização semanal, toda sexta-feira).
Tu, que és blogueiro (a) faz mais tempo, também analisas estatísticas?
Assunto recorrente
Como jornalista especializado em assessoria de imprensa parlamentar, não posso deixar de analisar o novo episódio envolvendo a deputada federal Maria do Rosário. A parlamentar gaúcha, relatora de uma CPI mista sobre exploração de crianças e adolescentes, recentemente flagrou o cunhado em situação constrangedora, durante uma blitz em Porto Alegre, quando o marido da sua irmã foi apanhando dentro de um Opala, acompanhado de um amigo e duas adolescentes. Rosário, dando um exemplo de seriedade no trato da coisa pública, colocou a ética em primeiro lugar e mandou que prendessem o Lobo Mau.
Agora, num quiproquó de lavadeira, meteu-se em bate-boca com o folclórico Jair Bolsonaro (baluarte da direita jurássica e retrógrada). Rosário, no calor da discussão, foi xingada de vagabunda e outros bichos. Após o incidente, muito ofendida, preferiu não falar à imprensa. E fez bem. Quem alimenta esse tipo de fofoca não merece crédito.
O PT reagiu, e vai levar o Boca Suja à Comissão de Ética Parlamentar. Do ponto de vista jornalístico, em menos de quinze dias, Rosário foi notícia duas vezes. E nos dois casos apareceu como vítima. De forma involuntária? Creio que sim. Quero acreditar que ela não sabia da presença do cunhado naquele carro, assim como também não acredito que tenha provocado o incidente Bolsonaro.
Experiente na política, Rosário está muito longe da inocência útil.
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